Economistas alertam que ainda não há sinais claros de retomada
disseminada por todos os setores e que tensão política afeta expectativas e
aumenta o risco de estagnação.
Por
Darlan Alvarenga, G1
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PIB - 1º trimestre 2017 - variação trimestral (Foto: Arte/G1) |
O Brasil voltou
a registrar uma alta no Produto Interno Bruto (PIB) após 8 quedas consecutivas,
o que tecnicamente tira o Brasil da pior recessão de sua história. Para boa
parte dos economistas, entretanto, ainda é cedo para decretar que a crise
acabou. Ainda não há sinais claros de recuperação em todos os setores e
permanecem dúvidas sobre o comportamento da economia nos próximos meses,
especialmente depois do terremoto político provocado pelas delações da JBS
envolvendo o presidente Michel Temer.
O país entrou
na chamada "recessão técnica" no 2º trimestre de 2015, quando
acumulou dois trimestres seguidos de contração do PIB. Por esse critério, ao crescer 1% no 1º
trimestre e deixar de registrar dois resultados negativos
consecutivos, a economia brasileira saiu tecnicamente da recessão.
A continuidade
da recuperação da economia brasileira ficou mais incerta após a crise política
se agravar na segunda quinzena de maio. Até então, com a inflação e os juros em
queda, e as reformas da Previdência e trabalhista caminhando no Congresso, a
perspectiva era de que a economia ganharia tração no segundo semestre. Mas com
a detonação da crise política, tudo ficou mais incerto.
“O país estava
saindo da UTI e agora voltou de novo”, resume o economista-chefe da Austin
Ratings, Alex Agostini.
No entendimento
do economista, o fim da recessão só poderá ser declarado quando o PIB no
acumulado em 4 trimestres fica positivo na comparação com os 4 trimestres
imediatamente anteriores. “Por essa metodologia, o país deverá entrar no
terreno positivo no 3º trimestre”, projeta.
Risco de estagnação
Agostini não
descarta, no entanto, tanto o risco de estagnação quanto o de continuidade da
recessão. “Ainda estamos em um processo de recuperação das expectativas e isso
ainda não foi traduzido em maior produção, investimento e consumo ao ponto de
tirar o país da recessão”, afirma.
O professor do
departamento de economia da PUC-SP, Claudemir Galvani, entende que a curva da
economia já mudou, mas avalia que o caminho até a retomada ainda será bem longo
e que, antes de voltar a crescer, o país ainda corre o risco de passar por um
período de marasmo. “Quem está na ribanceira e, de repente, aplaina, é ótimo.
Mas não muda o fato de que se está lá embaixo ainda”, afirma.
No último dia
22, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) colocou
a nota do Brasil em observação para um possível rebaixamento, citando que “o
enfraquecimento do presidente Temer, um longo ou conflitante processo de
transição ou um presidente com um curto mandato e menor capacidade e disposição
para avançar reformas, provavelmente atrasariam mais a recuperação econômica”.
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(Foto: ) |
Altos e baixos na economia
Se muitos dos
indicadores da economia já vinham num comportamento de gangorra, com altos e
baixos, o entendimento de boa parte do mercado é que o vai e vem pode acontecer
também no PIB.
"Nossas
projeções iniciais eram de estabilidade. Mas aumenta o risco de PIB negativo
para o 2º trimestre", afirma Alessandra Ribeiro, diretora de macroeconomia
e política da Tendências Consultoria.
Antes mesmo do
novo terremoto político, economistas já não descartavam a chance de um PIB
negativo no segundo trimestre, por conta do efeito estatístico de compensação
do forte impulso conjuntural do 1º trimestre.
A economista
Sílvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre/FGV, projeta queda de 0,1%
do PIB no 2º trimestre. Para 2017, a previsão de crescimento de 0,4% foi colocada
em "viés de baixa em virtude do aumento da crise política" e da
demanda interna ainda fraca.
Entre os
setores que ainda não mostraram sinais claros de recuperação está o de serviços
e a indústria da transformação, que historicamente costumam ter maior sincronia
com a direção dos ciclos econômicos. Outros indicadores de preocupação são o
baixa taxa de investimento, o desemprego e o crédito caro, que dificultam uma
melhora no consumo das famílias.
“Os indicadores
de atividade ainda estão muito voláteis. Muito do que vai acontecer até o final
do ano ainda depende de grandes incertezas do lado político e fiscal. Não será
fácil datar essa saída de recessão”, conclui Picchetti.
Conceito de recessão
O conceito de
recessão, entretanto, não é um consenso entre os economistas. Muitos deles
entendem a recessão como algo mais amplo do que o resultado do PIB. Para eles,
a recessão é caracterizada por uma retração expressiva e generalizada dos
indicadores econômicos, resultando não só na queda do PIB, mas também no
encolhimento da produção, consumo e investimentos. Ou seja, a saída efetiva da
recessão depende de uma recuperação disseminada e consistente da maioria dos
componentes da atividade econômica.
O IBGE não
trabalha com o conceito de recessão em suas pesquisas. Pelo Comitê de Datação
de Ciclos Econômicos (CODACE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), principal
referência no país na área, a recessão começou no segundo trimestre de 2014 e
completou 11 trimestres em dezembro de 2016, alcançando a mesma duração da
crise do governo Collor (1989-1992). Veja gráfico abaixo
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(Foto: Arte G1) |
O Codace ainda
não identificou o término do ciclo recessivo e, segundo os economistas, a
despeito dos sinais de melhora em diversos indicadores, ainda vai levar um
tempo para ser possível datar com convicção o fim, ainda mais diante do novo
temor de prolongamento da recessão em meio ao terremoto político de desfecho
ainda imprevisível.
O economista da
FGV/IBRE Paulo Picchetti, que integra o Codace, explica o resultado positivo do
PIB no 1º trimestre por si só ainda não é o suficiente para garantir o fim da recessão.
“Mesmo 2
trimestres seguidos de aumento não é garantia que a gente está de fato num
período de expansão”, afirma. “Não é o número do PIB que conta, e sim a
composição dele. A saída da recessão depende de uma trajetória crescente e
consistente”, continua.
Segundo o
pesquisador, os números do 1º trimestre precisam ser analisados com cautela,
uma vez que o resultado do PIB foi impulsionado pelos efeitos da supersafra no
agronegócio e por revisões metodológicas feitas pelo IBGE nas pesquisas de
comércio e serviços.
Picchetti
destaca que mesmo a indústria, que subiu % nos 3 primeiros meses do ano, ainda
não aponta para uma tendência clara de recuperação. “A produção industrial teve
um janeiro animador, mas em fevereiro e março foi negativa. Não está claro que
todos os componentes do PIB, ou pelo menos a maioria deles esteja em uma
trajetória de retomada que caracterizaria uma saída da recessão”, observa.
Para Meirelles, recessão é passado
Antes mesmo da
divulgação do resultado do PIB do 1º trimestre, o governo vem tratando a
recessão como algo que já acabou. “O Brasil já voltou a crescer, mas estamos
ainda vivendo os efeitos da recessão”, disse o ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles, durante a cerimônia que marcou 1 ano do governo Temer.
Na segunda-feira
(29), Meirelles destacou que as medidas já aprovadas já garantem que o país
entre numa trajetória de crescimento no curto prazo, mas admitiu que um
eventual atraso na aprovação das reformas, sobretudo a da Previdência, pode
afetar o PIB e fazer o país crescer um pouco menos em 2017 por conta do abalo
na formação de expectativas.
O Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão de pesquisa vinculado ao
Ministério do Planejamento, também entende que o Brasil já saiu da recessão,
uma vez que se observa uma mudança de tendência do comportamento da economia.
“É uma saída
técnica. Só vamos saber com toda clareza que o país retomou o crescimento
quando pudermos avaliar os próximos trimestres e verificar se a retomada se
consolidou”, afirma José Ronaldo de Castro Souza Júnior, diretor de estudos e
políticas macroeconômicas do Ipea. “Obviamente que o dado de um trimestre só é
pouco, mas o que a gente enxerga é que a tendência mudou. Esse é o ponto mais
relevante”, destaca.
Ao comemorar o
resultado do PIB nesta quinta-feira, Meirelles falou em
"dia histórico". "Depois de dois anos, o Brasil
saiu da pior recessão do século. Neste período, milhões de brasileiros perderam
seus empregos, milhares de empresas quebraram e o Estado caminhou para a
insolvência. O Brasil perdeu a confiança dos investidores e a confiança em si
mesmo", declarou em nota.
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